Denise
Ehhh! Hoje faz 2 meses que nasceu o menino Amaru e Eu, (re)nasci mãe.
Precisei desse tempo pra processar as minhas impressões sobre o evento do parto e construir meu relato. Aqui encerro o ciclo da gravidez e parto e inicio um novo, o gestar fora do útero, ao qual eu e meu bebê estamos nos adaptando e construindo juntos com muito amor.
No dia anterior ao parto, acordei à flor da pele e chorei, chorei muito.
Hoje, entendo que eram as emoções aflorando, me preparando pra chegada do meu bebê que estava tão próxima.
Mandei mensagens pra @Ariana (EO) e pra @Gisele (doula) sobre essa angústia e ambas me disseram pra relaxar, pra curtir o restinho da gravidez e que tudo seguia bem. E eu? Obedeci!
Passei o dia com amig@s, fiz massagem e até tomei uma gelada. Foi ótimo e ao fim do dia, percebi meu tampão mucoso saindo aos poucos. A noite passou e não senti nada, absolutamente nada.
Na manhã do dia 11, por volta das 9 horas, eu e Javi (pai do Amaru), tivemos a “brilhante” ideia de instalar um ventilador de teto. Foi só arrastar os móveis, furar o teto (…) e, TCHARAM!!! A primeira contração às 10h. E a segunda veio logo, a terceira e a coisa foi numa crescente evolução que eu assustei, a dor me assustou um pouco. Observamos por um tempo e uma hora e meia depois iniciamos a contagem das contrações no aplicativo. Nos enrolamos um tanto, porque ao mesmo tempo, Javi tentava resolver o ventilador, preparar uma refeição e encontrar alguém pra ficar com o Bento (irmão do Amaru).
As primeiras horas dos pródomos foi estressante pra gente e não conseguimos acessar aquela “pasta” das visualizações e técnicas pra se conectar ao processo com mais tranquilidade. Esse tempinho é precioso e me fez falta, até amarguei uma frustraçãozinha depois, mas já me auto-analisei (rs…).Havia feito uma playlist, que eu e Amaru ouvimos durante toooda a gravidez, nem me lembrei dela. Poderia ter delegado essa missão pra alguém, sei lá, rs…eu havia programado, como se fosse possível “programar” alguma coisa nesse processo. É aí que tu percebe que tem que abrir mão do controle, porque não tem outro jeito, não temos controle algum.
Fui pro chuveiro tentar relaxar, a esta altura já estávamos em contato com a equipe. Eu saía do chuveiro, as contrações BOMBAVAM e eu voltava. Ora me concentrava e respirava, ora descompensava. A @Bruna fez a primeira avaliação às 17:30, estava em trabalho de parto ativo, na partolândia. E a única coisa que desejava era ver meu filho nascer. As horas passavam, tudo me parecia lento e interminável. E a cada contração, a cada respiração fui me entregando e fiz o melhor que pude.
Eu acredito que o bebê vem quando a gente deixa (…), e então Amaru e eu completamente conectados, o sentia descendo, girando, todos os músculos do meu corpo, nós trabalhamos juntos nessa mágica poderosa que é o nascimento.
@Javi, meu companheiro querido, percorrendo comigo esse caminho novo, me acalmava, me deixava segura e respirava comigo. Como na música dos Novos Baianos, Amaru é o nosso caso de amor.
Eu buscava mãos de amparo, literalmente, do Javi e da equipe. Uma contração sem elas e eu descompensava. Foi intenso, difícil, durou 13 horas e eu estava cansada. Nada romântico como, irritantemente, o patriarcado insiste em vender a maternidade. É força, essência, natureza e ancestral!
E foi assim, até às 23 horas de sábado 11 de maio, quando Amaru nasceu em casa, iluminando tudo ao seu redor! Sem intervenções, sem laceração, sem toques vaginais, no máximo respeito às minhas escolhas e privacidade, cercado de amor e cuidado, meu presente de “dia das mães” chegava adiantado e eu não parei mais de sorrir. Minha ancestralidade era presenteada, havia chegado um bisneto, um neto e sobrinho, para aquelas que me deram a vida e cuidam de mim.
Felicidade e gratidão para além do nascimento de um filho por ocupar este lugar de protagonismo, enquanto mulher negra, quando o sistema e as estatísticas de saúde me dizem que eu não deveria estar aqui, enquanto minhas irmãs são as que mais sofrem violência obstétrica e as que mais morrem tendo sua dignidade e direitos reprodutivos roubados.
Esse relato é vitorioso, é a luta de profissionais dedicad@s a transformar essa realidade cruel e excludente, é RESISTÊNCIA!!!
Gratidão ao universo e aos ancestrais que me guiam por nos permitir recordar este momento com ternura e encontrar pessoas iluminadas nesta caminhada, @Sankofa, @Bruna, @Marina, @Gisele! Estarão sempre em nossos mais nobres pensamentos!
Com amor,
Denise, Javier e Amaru!